O oriente, o ocidente e o coro

Soube há alguns dias que a Osesp estava estreando seu projeto "itinerante 2010" em Ribeirão e me programei para os concertos, afinal, Osesp de graça não é todo dia.
Cheguei há pouco da apresentação do Coro de Câmara da Orquestra, que recomendo com veemência! Aliás, recomendo todos os corais, em especial os da Cia. Minaz (a gente também precisa ganhar a vida, sabe como é, hehe...).
Após todos os avisos de praxe, os "desliguem seus bips, celulares" e "é proibido filmar ou fotografar o espetáculo" (mesmo sempre havendo quem tire fotos com o celular), vem o terceiro sinal. O coro entra, naquela formalidade de passo e vestimenta, como notas se colocando numa partitura.
Todos a postos, eis que surge a regente. Uma pequena figura nipônica que inspira instantânea simpatia. Um pouco tensa ao se apresentar à platéia estranha e lotada, ela mostra fibra ao manter o discurso de agradecimentos, rápido, incisivo e anuncia o repertório, de posse da mesma precisão com que rege os cantores. Sabem como é, a disciplina oriental, bem dosada, é muito bem-vinda.
Algumas peças sacras, seguidas de um spiritual. Um Villa-Lobos e uma coletânea de arranjos de composições populares brasileiras encerram o concerto. Condizentes com a formalidade da aparência do coro, as peças eruditas são entoadas com toda a postura e técnica, com esmero na dinâmica, sendo um pianíssimo agudo tão bem desenhado quanto o fortíssimo grave.
Nota-se o esmalte lírico também nas peças populares, porém desviam-se da confusão de estilos adotando trejeitos mais espontâneos, ou por vezes até cênicos. A percussão com palmas e a escolha de solistas que cativam a platéia na "muié rendera" e outras canções nordestina dão o toque final ao tom "malandro" do repertório nacional.
A disposição dos naipes não é a tradicional, sendo baixos e barítonos mais próximos das sopranos, e contraltos e tenores na mesma metade do palco. Dessa forma, o canto que chega à platéia é mais homogêneo, e isso também deve-se à consciência de grupo que os integrantes mostram. Aliás, coisa imprescindível num coro, lembrar que não se canta sozinho, mas que se é parte, ao mesmo tempo, do microcosmo do naipe e do macrocosmo do coro, e guardar as responsabilidades para com cada universo e com o regente, em prol do resultado final.
Aliás, talvez o maior ensinamento para um coral seja de um matemático americano (John Nash, em "Uma Mente Brilhante"): "fazer o melhor para si e para o grupo". E que venha a técnica oriental e o repertório brasileiro, que estaremos num brilhante concerto!
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