Reduzida a um nada de sentimentos

Não quero palavra. Não, não quero. Hoje me deixem só, é pedir muito? Não, não quero nada. Já disse que não quero nada. Nem café. Só eu e meu cigarro nessa simbiose humana-esfumaçada estamos aqui na frente da tela. O desejo de fumar é algo quase fisiológico e não mais uma coisa apartada de mim. Eu sei que o café esfriou. Café frio também faz pensar, quente demais queima a língua. Eu sei que devia sair do twitter e ir fazer algo de útil, mas eu pareço tão supérflua no mundo lá fora que a tela e meus seguidores fazem do ambiente virtual o meu porto seguro de cada dia. Eu sei que devia sair de casa, lutar pela moral da classe e por uma eleição justa. E eu desejaria tudo isso do fundo da alma, se alguma coisa conseguisse desejar. E nem o não-desejar eu desejo, não desejo nada. É-me tudo indiferente. Desses momentos em que não se sente nada, mas muito se pensa. As emoções são diluídas no meu voraz intelecto, que age sem que eu me dê conta, destruindo tudo o que chega como afeto, para que eu me certifique de que não sinto, apenas penso. É difícil dormir. Diria quase impossível. A minha falta de sentimentos e efervescência mental me afasta inclusive o sono. E eu apenas penso e crio pensamentos que me devoram. Minha imaginação transforma detalhes ruins em elaborados traumas e eu me auto-destruo por dentro num movimento contínuo.
Category: 1 comentários

Um comentário:

Anônimo disse...

Marcela, prazer em conhecê-la! Não fomos devidamente apresentados. Então somos colegas?!

Postar um comentário